Uma Nova Etapa da Vida

Teologia - 1968 e 1969 – A Febem

No início de 1968, desliguei-me da Congregação Salesiana e uni-me ao clero diocesano, indo fazer os estudos de Teologia em São Paulo, na Faculdade de Teologia da PUC, no Ipiranga, na avenida Nazaré, com o sonho de trabalhar em favelas. Fiz algumas vezes essa atividade com uma irmã americana, mas percebi que não era aquilo que eu queria realmente.
Foi também durante esses dois anos, que aos domingos realizei um trabalho voluntário na antiga FEBEM (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor), (hoje Fundação Casa) na Avenida Celso Garcia. Passava o dia todo com os jovens internos, experiência muito enriquecedora para mim, que até então só havia tido contato com alunos de classe mais elevada. Através do esporte conquistei a amizade daqueles jovens que apesar da realidade em que viviam, tinham sonhos.
Certa vez fui convidado pra fazer uma palestra para um grupo de jovens da FEBEM, à noite. O diretor da Fundação ficou admirado de eu ficar sozinho com aqueles jovens dentro de uma sala, provavelmente um refeitório por causa das mesas, até às 22 horas. Mal eu podia imaginar que na manhã do dia seguinte aconteceria uma das maiores fugas já registrada.
Noutra ocasião a palestra foi pra cerca de quatrocentos jovens, todos vestidos com uniformes azul e calçando havaianas, sentados no chão em total silêncio, num espaço cercado por grades e vigiados por vários policiais. Os jovens tinham lido nosso livro A parábola do planeta azul. Ficou gravado em mim o fato de não ter visto nenhum sorriso em nenhum daqueles rostos. Após a palestra, os jovens foram mostrar os trabalhos que haviam feito com o livro: cada sala dedicada a um capítulo do livro. Em grupo, os jovens falavam sobre os trabalhos expostos. Uma reprodução em tamanho gigante do anjo Rafael, personagem da história, todo coberto de algodão, ocupava a entrada do corredor principal. Impossível de se esquecer.

Uma nova etapa da vida

Após concluir o segundo ano de teologia e já com 29 anos, depois de muito sofrer e refletir, me desliguei do clero e do seminário diocesano para dar início a uma nova etapa de vida.
Aproveitando que era formado em História e Geografia, comecei procurar escolas onde pudesse lecionar. Foi um começo de vida muito difícil morando em pensões, comendo nos bares e tomando várias conduções por dia. Certa vez tive que penhorar o relógio na Caixa Econômica pra ter algum trocado pra comer. Para completar a renda fazia bicos: vendia sacos de lixo, carnês de telefone, produzia material audiovisual. Foram alguns anos assim, lecionando em escolas públicas e particulares, manhã, tarde e noite e fazendo algum bico.
Em 1974, aconteceu um fato muito triste. Eu estava em Americana na casa da minha irmã Lourdes e do meu cunhado Velasco. Após o almoço fui levar minha mãe de carro pra receber a aposentadoria dela. Juntos, estava minha irmã Lourdes e minha sobrinha Luciana de quatro anos.
Ao atravessar a ponte sobre o Córrego do Parque, na Avenida Brasil, meu carro foi atingido por outro que vinha em velocidade. Ambos os carros encapotaram. Minha mãe e irmã foram parar no hospital (Clínica São Lucas). Comigo e com Luciana não aconteceu nada. Talvez tenha sido o pior dia da minha vida quando tive que ligar pro meu cunhado dando a notícia do acontecido.
Passo em seguida a listar as escolas públicas em que trabalhei depois que saí do seminário: E.E. Ademar Hiroshi Suda, no Parque Vitória, zona norte; E.E. Jardim São Paulo, atual E.E. Prof. Antonio Lisboa, no Jardim São Paulo, zona norte; E.E. Alfredo Ashcar, no Jardim Tietê (primeira escola a trabalhar com o cargo efetivo de Geografia); E.E. Alfredo Machado Pedrosa, em São Mateus; E.E. Eduardo Carlos Pereira, na Vila Rica; Escola Municipal Bartolomeu Lourenço de Gusmão, Vila Santa Isabel; E.E. Prof. Moacyr Campos (onde me aposentei) essas todas na zona leste, em São Paulo.

Uma nova etapa da vida

Alunos com o quadro que pintaram na E.E. Eduardo Carlos Pereira.
E as escolas particulares: Colégio Princesa Isabel, em Moema, Liceu Coração de Jesus, nos Campos Elíseos e Instituto Dom Bosco, no Bom Retiro, todas em São Paulo.
Aproveito este momento pra enviar uma saudação muito especial a todos os meus queridos ex-alunos dessas escolas e das demais que trabalhei como salesiano: Ginásio São Joaquim de Lorena, Liceu Coração de Jesus de São Paulo, Liceu Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas e Instituto Salesiano Dom Bosco de Americana.