Seis Anos em Lavrinhas
Ginásio são Manoel de Lavrinhas (seminário menor)
No Ginásio São Manoel de Lavrinhas só havia do sexto ano em diante. Sendo assim, fiquei sem terminar o terceiro ano, sem fazer o quarto e tendo que enfrentar o quinto ano (atual sexto), inclusive com aula de francês. Nas séries seguintes com aulas de inglês, espanhol e italiano. No segundo grau com aulas de latim e grego, nada fácil de digerir.
Nos primeiros dias era comum bater aquela saudade dos pais e familiares e chorarmos muito encostados às colunas do pátio ou na cama debaixo das cobertas, mas sempre consolados e animados pelos padres que faziam papel de pai. A gente estranhava o dormitório com as longas fileiras de camas uma ao lado da outra e janelões só com vidraça. Para trocar a roupa, fazíamos do cobertor uma capa nas costas presa aos dentes. Para trocar a camisa púnhamos o cobertor sobre a cabeça. Pode parecer engraçado, mas era assim mesmo e tudo dentro do mais rigoroso silêncio. Durante a noite, o medo era tanto para irmos ao banheiro que a gente ficava aguentando até um mais corajoso levantar. Aí era aquela fila atrás dele.
O Dia a Dia
Nossos dias como alunos internos eram entremeados com práticas religiosas (missas diárias e Bênçãos do Santíssimo, reza do terço nas filas, novenas, canto gregoriano e aulas de História Sagrada), ocupações (trabalhos caseiros pra limpeza da casa; cada mês a gente tinha uma obrigação) aulas, tempo pra estudo, trabalhos manuais com enxada na horta, recreações, passeios, tudo dentro de um rígido horário pra cada atividade e muito silêncio em todos os ambientes como: capela, dormitório, refeitório, salão de estudo e salas de aula. Nas quintas-feiras não tinha aula. O dia era reservado para trabalhos e passeios (sempre a pé e com longas caminhadas). Alguns dos locais de passeios era a ponte na via Dutra sobre o rio Paraíba; no rio Jacu, sendo que podíamos entrar com água somente até a altura dos joelhos, com as calças arregaçadas e no lago não muito distante do colégio. Todos os meses éramos trocados de lugares na capela, dormitório, salão de estudos e refeitório.
Um passeio bem maior e também realizado a pé, era na fazenda do senhor Tondatto, uma vez por ano e sempre depois da Páscoa, onde a gente se esbaldava de chupar laranja. Numa dessas vezes, eu e mais alguns colegas fomos acometidos de forte dor de barriga tendo que correr pro mato. Uma vez por mês nós fazíamos o exercício da boa morte com orações contidas no nosso livro devocional O jovem Instruído, e pregações sobre a morte que provocava medo em nós ainda menino. Uma vez por ano fazíamos o retiro espiritual durante quatro dias. De manhã, na hora de levantar, o clérigo que tomava conta da gente falava alto e em latim Benedicamus Domino (Bendigamos ao Senhor) ao que todos nós respondíamos Deo gratias (Demos graças a Deus). Tínhamos meia hora pra arrumar a cama e fazer a higiene matinal sempre no mais absoluto silêncio.
Lembro-me de algumas ocupações que eu tive: cuidar do altar (limpeza dos castiçais, das tochas, colocar flores.), fazer hóstias, servir como garçom dos alunos e dos padres, varrer o dormitório (com serragem molhada pra não levantar pó), a capela, o pátio, descascar batata, lavar talheres.