Salão de Estudos
Salão de estudos. Foi nele que escrevi minha primeira história.
Nas carteiras duplas havia um copinho de metal com tinta que ficava na frente e no meio dela, pra gente escrever com a caneta de pau. Diariamente ele era abastecido com mais tinta.
Às vezes, à noite, enquanto estudávamos (em silêncio, é claro) atraída pela claridade das lâmpadas entrava pelos janelões (abertos por conta do calor) uma espécie de escorpião voador que a gente chamava de lacraia. Mas como lacraia não voa, segundo minhas pesquisas, imagino tratar-se da mosca escorpião, uma mosca que tem algo semelhante a um ferrão (daí o seu nome) que na verdade é o pênis da mosca. Importante, que apesar de ser um inseto assustador e que botava muito medo na gente quando entrava voando, é na verdade um inseto inofensivo. Se for realmente isso, menos mal, mas que o bicho assustava, ah, isso sim!
Foi também nesse salão de estudos, na noite do dia 25 de agosto de 1954 que um padre nos deu a notícia da morte do então presidente Getúlio Vargas, vítima de um suicídio.
Minha primeira história
Também nesse salão, com cerca de 14 anos, descobri meu talento ao escrever minha primeira história: Férias na fazenda. Considero ter sido meu primeiro “livro”. Eram algumas folhas de papel sulfite por mim datilografadas (então eu já havia feito o curso de datilografia sob a supervisão do Padre Júlio Bersano) dobradas ao meio. Com agulha e linha, ajuntei as folhas e costurei o dorso formando um pequeno “caderno”. Meu colega Argemiro Domingos fez os desenhos e pintou com lápis de cor.
O que eu não podia imaginar é que aquele simples livro artesanal seria o prenúncio de mais de cinquenta livros. Empresta pra um empresta para outro, acabei perdendo aquilo que foi meu primeiro “livro”.
Dos meus colegas, alguns já faleceram.