O Jornalzinho
No pátio havia uma lousinha onde eram escritos avisos dizendo como seria ocupado o recreio após o almoço: trabalho ou recreação. Nessa mesma lousinha lembro que eu fixava uma folha de sulfite, uma espécie de jornalzinho, com textos e desenhos feitos por mim. O jornalzinho tinha um nome mas que não me recordo mais.
Estava ali um prenúncio do que eu viria a fazer mais tarde.
A Redação
Quando eu já tinha meus treze anos, o professor de Língua Portuguesa, clérigo Genésio Bonna, pediu que fizéssemos uma redação de tema livre. Não sei por que, mas na hora veio-me à mente a tromba d´água que havia acontecido em Americana nos meus acalentados sete anos. Na ocasião a cidade tinha pouco menos de 20 mil habitantes. Peguei o tinteiro, a caneta de pau e o mata-borrão (papel grosso e absorvente usado pra secar a tinta da escrita) e comecei a escrever. Fato curioso foi que enquanto eu escrevia tinha a sensação de que a tromba d´água estava acontecendo naquele instante. Vou puxar pela memória e tentar lembrar o que escrevi.
Foi mais ou menos isso:
Entreguei o caderno de redação para o professor. Eu estava curioso para saber que nota ele me daria, e mais que isso para saber se ele também teria a mesma sensação que eu: sentir a tromba d´água acontecendo naquele momento.
Quando o professor devolveu o caderno, fui direto à página da redação. Imagine minha alegria ao ver que o professor havia me dado nota dez. Sorri de satisfação. Naquele momento eu descobria meu talento que haveria de desenvolver, bem mais tarde, com a publicação de tantos livros.
Com a redação que eu fizera, sobre a tromba d´água, descobri que escrever é por pra fora o que está dentro de si; que escrever é compartilhar; que escrever é se entregar de corpo e alma naquilo que se escreve; que escrever é produzir sentimentos: alegrias, angústias, prazer; que escrever é: se manifestar, é se expor, é se doar, é mostrar a alma, é se entregar ao leitor; descobri enfim que escrever é uma espécie de terapia que faz bem à alma!