Nossas Roupas
Eram colocadas dentro de um saco e às segundas-feiras eram levados pra lavanderia. Cada aluno tinha um número (o meu era 113) marcado com tinta preta no saco e em todas as peças. Aos sábados os sacos com as roupas eram devolvidos. Meias e lenços era a gente mesmo que lavava e punha a secar no pé da cama. Eterna gratidão às humildes lavadeiras que lavavam a roupa de mais de 200 meninos em tanques de cimento e as passavam com ferro à brasa. Como conseguiam?! Que Deus, cuja companhia devem estar desfrutando, as recompensem.
Nossas Refeições
Eram feitas no refeitório, um salão com muitas mesas com oito lugares em cada uma delas. Num primeiro momento, comíamos em silêncio ouvindo uma leitura de uma boa história tipo Tom Sawyer, feita por um aluno maior ou por um clérigo sob um pequeno pedestal pra ser ouvido por todos. Cada dia lia-se um pedaço da história levando tempo pra ler o livro todo. As travessas com arroz, feijão e mistura iniciavam numa ponta da mesa e tinha que chegar (com comida é claro) até a outra ponta. Usávamos sinais com a mão (zero, 1, 2, 3) para pedir as travessas, caso quiséssemos repetir se houvesse alguma sobra. Num segundo momento, após a leitura, podíamos conversar. (Esse mesmo esquema de leitura era feito também no dormitório quando nos preparávamos para dormir).
No meio da mesa sempre havia uma moringa com água. Apenas em poucas datas do ano de grandes festividades vinha uma garrafinha de guaraná. Quando a gente recebia algum doce de casa tinha que dividir com todos. Quem de vez em quando mandava alguma guloseima era minha irmã Lina. (Uma vez me mandou um par de sapatos, bonito mas pequeno para os meus pés em crescimento e mesmo assim eu o usava. Não via a hora que chegasse a noite pra tirá-lo do pé e sentir aquele alívio). O que me impressiona é que em todos os anos que estive no colégio, nunca faltou um café da manhã, almoço, café da tarde e janta. Gratidão a todos aqueles que cuidaram da nossa alimentação. Na época das mangas, depois de lavar os caroços e deixa-los secar, pintava neles a carinha do Papai Noel.
Banho
O banho era na “piscina” (na verdade um tanque de cimento rústico, com água corrente às terças, quintas, sábados e domingos), rodeada de mangueiras, sendo que não podíamos conversar. Quem não sabia nadar tinha que aprender praticando nos cantinhos e foi assim que aprendi a nadar. Levávamos uma toalha e um sabonete. Difícil era no inverno com a água gelada. O padre assistente apitava e tínhamos que pular fizesse frio ou calor. Só os padres tomavam banho de chuveiro.
As mangas amarelinhas e perfumosas ao alcance de nossas mãos bem ao redor da “piscina” era uma tentação, mas comer fora de hora era pecado. (Outra fruta que havia em abundância entre o prédio e o barranco onde ficava a piscina e que não se podia comer era o Jamelão). Foi nessa época que aprendi que manga com leite não matava, pois, no café da tarde, além da xícara de café com leite, na época das mangas vinha uma porção delas. Mas com o passar dos dias, semanas e meses a gente ia se acostumando com o novo ritmo de vida.