Minha Origem

Nasci em Americana, na época importante polo têxtil, no interior do Estado de São Paulo, em 1º de maio de 1942.
Filho de italianos, meus pais Francisco José Carraro e Emma Palaro eram, de Piazzolla Sul Brenta (meu pai) e de Grantorto (minha mãe), pertencentes à Província de Pádua, nordeste da Itália. Minha mãe havia perdido três irmãos na guerra (Primeira Guerra Mundial: 1915 – 1917). Fugindo da guerra e da fome, juntamente com outros milhões de europeus, na sua maior parte italianos, alemães, portugueses, entre outros, meus pais chegaram ao Brasil de navio vapor (nave Regina), vindo da Itália, em 24 de maio de 1923, no porto de Santos, depois de uma viagem de cerca de 30 dias em condições bem precárias e muito sofrimento, deixando família e tudo mais para trás, na esperança de fazerem a vida (Fare l’America [fazer a América], para os italianos, era sinônimo de enriquecer) na nova terra que os recebia de braços abertos para suprir, com sua mão de obra braçal, sobretudo na lavoura dos cafezais, a lacuna deixada pelos escravos africanos recém-libertos.
Minha mãe passou muito mal durante a viagem toda. Junto com meu pai veio tio João, irmão dele, com tia Maria e a filhinha Lélia também com poucos meses, que se tornaria minha madrinha. De Santos, um primo os levou para sua fazenda de café em Tabapuã, noroeste do estado de São Paulo, fazendo-os quase de escravos, fato que os fez fugir à meia noite, primeiro numa carroça e depois de trem até parar em Americana.
No Brasil, meus pais formaram uma família de nove filhos: Lina (que veio da Itália com nove meses), Hugo (morreu com quatro anos por conta de uma febre alta e não ter tido tempo de ser socorrido), Maria (desde cedo exercendo tarefas de gente grande), Lourdes, Gino, Geraldo (Ado), Antonio (Toninho era armeiro e bom de luta livre), eu (Nando) e José (Zezinho, grande pescador, adorava pescar e passar a noite na beira do rio armando a rede). Todos me deram muitos sobrinhos. Toninho e Zezinho, infelizmente morreram muito cedo.

Um fato à parte sobre minha irmã Lina

No navio em que meus pais viajavam para o Brasil, ela ficou doente (tifo, cólera, sarampo?). O capitão pediu que meu pai a colocasse num saco e a jogasse no mar pra não transmitir a doença pros demais passageiros (as pessoas que morriam também eram jogadas no mar dentro de um saco para evitar perigo de contaminação durante a longa viagem). Diante do choro copioso do meu pai, o capitão pediu então que meu pai escondesse a criança. Quem diria que aquela criança que deveria ter sido jogada no mar viveu até seus 97 anos, vindo a falecer em 27 de janeiro de 2020.
Obs.: No youtube tem um vídeo bem legal que fiz pra ela quando completou 88 anos. Acesso: Lina, dama de Angatuba.